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“Nós somos hoje uma corda enfraquecida” afirma presidente do COMAM, Joel Pereira

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O Portal conversou com o presidente do Conselho de Meio Ambiente de Camaçari, Joel Pereira, sobre a atuação da entidade em sua gestão. Além de fazer um balanço, o ambientalista cobrou mais atuação do poder público na preservação do meio ambiente, falou dos avanços e da relação com os conselheiros, afirmando que infelizmente o COMAM hoje “é uma corda enfraquecida”.

Joel iniciou parabenizando todos os envolvidos no processo de revisão do Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano, aprovado na Câmara Municipal de Camaçari, em dezembro do ano passado. “A cidade estava parada, não tinha como progredir, como crescer com um PDDU tão atrasado como estava o nosso. O que ele traz de vantagem para o Conselho de Meio Ambiente, ou para o meio ambiente de forma muito objetiva, é que ele estabelece um fundo, recurso para que tenhamos independência de tocar o Conselho. Para se ter uma ideia, o site do COMAM foi criado com recursos próprios dos seus associados, porque tínhamos boa vontade. Então, essa é uma das grandes vantagens que o PDDU traz. Não existe na verdade a possibilidade de crescimento de uma cidade, inclusive da nossa com mais de 50% de área ainda de zona rural, sem mexer na sua estrutura de meio ambiente. O que precisamos estar atentos é sobre os cuidados necessários com esse meio ambiente, para que a cidade cresça de forma organizada e ordenada, porque nós não somos contra o crescimento. As questões polêmicas, elas vão existir sempre, porque às vezes você tira uma cláusula para inserir outra, e não há o entendimento correto. O nosso PDDU foi extremamente democrático, abrindo a possibilidade de participação de toda a comunidade. Eu estive presente em todas as audiências públicas e não só a sociedade civil, mas todas as pessoas presentes tiveram fala”, pontuou.

Sobre a conturbada sessão na Câmara de Vereadores, para aprovação do PDDU, onde diversas pessoas se manifestaram contra o documento, o presidente salientou que a Casa Legislativa representa a população. “Não é verdade que todas aquelas aquelas pessoas ficaram omissas, ou não tomaram conhecimento do que estava contido ali, sobretudo em relação as questões do meio ambiente. Pode ser que uma outra coisa, a gente ainda não esteja em concordância, mas cabe também a nós buscarmos esse esclarecimento, e é isso que o COMAM tem feito. Todas as questões levantadas por qualquer membro do Conselho, nós conversamos com a secretária Andréa Montenegro, a qual tenho muito respeito, carinho e ela tem tido muita atenção com esse Conselho, se colocando sempre à disposição para dirimir essas dúvidas, trazendo a nós a tranquilidade necessária para um novo momento do COMAM”.

Na oportunidade o presidente ainda destacou a importância da ex-presidente do COMAM, Ana Mandim para o Conselho. “Eu digo a ela que pode me convocar e me convidar que eu estarei com ela em qualquer reunião, em qualquer repartição, porque é um dos membros do nosso Conselho que me faz movimentar. O que acontece é que nós temos metodologias e comportamentos diferentes na condução de cada situação. Eu entendo que às vezes eu preciso falar mais alto para ser ouvido. Eu entendo que às vezes o meu silêncio também é ouvido. Então, o que eu busco fazer, e o que eu busquei fazer em toda a minha gestão, é ter boas relações com o Conselho. Então esse Conselho aqui é representado por mim, ele tem a sua relação aberta com o Ministério Público, com a Polícia do Estado, Federal, com secretarias. Neste momento o Conselho de Meio Ambiente de Camaçari tem portas e janelas abertas para ser ouvido em qualquer repartição municipal e se precisar na esfera estadual. E esse foi o meu papel, porque eu encontrei um Conselho onde as relações estavam conturbadas, elas estavam prejudicadas e esse assim eu continuarei na democracia, no diálogo, na harmonia, no respeito mútuo para trazer os resultados que tanto a nossa cidade precisa".

O Conselho é formado 18 membros efetivos e a mesma quantidade de suplentes. “O Conselho tem uma pessoa muito atuante, que é diferenciada e é uma pessoa muito sofrida, muito frustrada, muito marcada pela inércia do poder público. E isso faz com que ela venha sempre na defesa. Isso faz com que ela nunca se permita um voto de confiança no novo. E isso tem sido o meu maior problema. Eu estou falando de Ana Mandim, eu reconheço o quanto ela é sofrida, o quanto ela já foi perseguida, o quanto ela ainda se expõe, mas ela precisa entender que há um novo momento, ela precisa se permitir um voto de confiança ao novo momento. Eu tenho trabalhado muito próximo dela, a nossa relação é muito boa, é de respeito, nós estamos juntos, mas ainda não falamos a mesma linguagem. Nós precisamos de comunhão, de falar a mesma linguagem, nós precisamos de mais ‘Ana Mandins’, de ‘Joéis’, de mais despojamento, de mais coragem, nós precisamos neste momento sobretudo de segurança para as nossas Dunas. Enquanto o nosso município e estado não entenderem que todos que trabalham pelo Parque das Dunas precisam de segurança, nós não avançaremos nunca para o segundo passo, porque o primeiro ele é primordial".

E sobre as frequentes invasões e descarte ilegal de lixo nas Dunas de Jauá, Joel exalta que esse é ponto mais desafiador do COMAM. “Eu diria que se eu realizasse muitas outras benfeitorias na nossa cidade, mas eu encerrasse o meu mandato sem mexer com aquele acesso, sem mexer com uma estrutura de segurança para a nossas queridas Dunas, eu me sentiria fracassado. Então, o meu esforço, o meu olhar está voltado para aquela área. Qual é a minha maior dificuldade neste momento, não é mover o município e o Estado para as ações emergenciais necessárias, é convencer o meu grupo de amigos, os meus colegas, membros do Conselho para as condições necessárias para que esses recursos venham. Eu não consegui ainda fazer um conselho coeso. O Conselho de Meio Ambiente ainda não é um conselho que acredita no poder de comunicação, de argumentação, de negociação do seu presidente, mesmo eu já evidenciando que a solução ali só terá sucesso com diálogo, com as boas relações. Eu mostrei isso, mas me parece que as pessoas não querem ver. As pessoas têm outro objetivo ou tem uma outra forma de atuação, uma outra metodologia. O que nós precisamos é que o grupo esteja mais unido para trazer esse resultado. Quando o grupo está fragmentado, ele fica enfraquecido. Então nós somos hoje uma corda enfraquecida”.

O presidente ainda fez um chamamento para os membros do Conselho. “Estou dizendo a eles o seguinte, eu sou um instrumento na mão de vocês. Eu preciso que vocês usem aquilo que eu tenho de melhor para os bons resultados que a nossa cidade precisa. Então assim, qual era o maior problema que eu tinha no Conselho quando assumi a presidência? A falta de relacionamento. Portas e janelas fechadas para o diálogo com o Conselho. Eu fui destravei, eu abri todas as portas. Agora eu preciso que as pessoas consigam, que as pessoas parem para me ouvir, entender as minhas propostas, as minhas ideias e corroborem comigo. Eu sou apartidário, eu vou com qualquer um, com qualquer cor de camisa, seja vermelha, azul, amarela e branca. O que eu quero é defender o meio ambiente da minha cidade, da cidade que eu sou cidadão constituído. Eu só preciso disso. E hoje meu maior inimigo está dentro da minha própria casa. Eu não consigo ainda unir o meu Conselho, eu não consigo falar a mesma linguagem, eu não consigo convencê-los para esta realidade. E aí, algumas vezes, eu me mantenho um pouco mais distante ou omisso a algumas situações, e parece que isso é covardia, mas não é covardia, é só uma questão de estratégia. Eu preciso me organizar para esse enfrentamento".

Para o presidente, falta iniciativa, comprometimento e punho firme dos poderes em relação as questões ambientais em Camaçari. “Eu tenho o maior respeito por todas as pessoas que estão no poder, todas. Eu tenho uma relação muito amistosa com todos os nossos colegas vereadores, mas o que eu asseguro com muita tranquilidade como cidadão, é que se houver interesse do poder público, quer seja na esfera municipal, estadual ou federal, aquela situação [das Dunas] é resolvida. Porque nós temos um país com muitas complexidades, maiores que aquelas e absurdas, mas quando há interesse, sensibilidade, predisposição, é resolvido. Então, eu diria o que nós vivemos em Jauá, eu não quero classificar como irresponsabilidade nem como omissão, mas eu quero também dizer com muita clareza que não há boa vontade de ninguém, quer seja da esfera municipal, estadual ou federal, para uma solução imediata do caos que vive ali. Porque se quiser, resolve”, finalizou.

 

 

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